todo mundo adora
a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor
a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor
a dor a dor a dor a dor a dor a dor a dor . . .
. . . [etiqueta]
olá como vai
não tão bem
isso é jeito de falar com os outros
ué não posso ser sincero
ah te lascar . . .
. . . [aquecimento da economia]
passei mal
quando voltei
do banco
acho que foi
o valor . . .
. . , [the bee & the flower]
a bee
wanting to be a bee
flew to a flower
but that flower
was so sour
that the bee
burst into tears
now the bee knows
that the nectar of flowers
is not in all flowers
because some flowers
do not want to be flowers . . .
. . , [sorriso]
Acostumado a seu rosto,
ainda é você que vejo quando me olho no espelho.
Eu desenho inconsciente o movimento de contração de suas pálpebras
e o leve arquear dos lábios que formam o sorriso que prediz um beijo
agora eternamente impossível. . . .
. . . [palavra & corpo]
meu corpo não nasceu antes da minha palavra
– ela apenas levou um tempo calada
meu corpo havia de existir
para que minha palavra pudesse existir
e quanto mais minha palavra acontece
mais meu corpo acontece . . .
. . . [dorian gray c'est moi]
O espelho envelheceu
Ou fui eu?
Não me atrevo a olhar.
Eu desejo amar – nem que seja Perseu.
A Medusa sou eu. . . .
. . . [este sou eu]
um pássaro
sem penas
sem voo
e ainda assim
sem galho
sem pouso
um pássro
sem bico
sem canto
um pásro
quase sem pássaro
quase sem letras sem fonemas sem pronúncia . . .
. . . [andorinhas]
onde estão vocês?
há tantos insetos decolados
alimentem-se . .
.
. . . [bolor]
jamais acreditei
que nas paredes do oco
pudesse haver mofo
jamais acreditei
que nos vácuos do meu ser
você pudesse novamente crescer . . .
. . . [pelos internos]
É frio. Nascem pelos nas paredes
de meu apartamento – não como se formassem uma pelugem;
eles surgem encravados. . . .
preso
em uma bolha de sabão
meu verdadeiro eu
eternamente
espera
a explosão . . .
. . . [determinação]
no muro da prisão
eu escrevi a palavra porta
e vou repeti-la
até abri-la . . .
. . . [o silêncio e as aranhas]
O meu apartamento está impregnado de silêncio e de pequenas aranhas.
As teias são uma fibra proteica que me alimenta e me paralisa.
As teias do silêncio, digo. . . .
. . . [he left]
he left
and that makes me choose
only people who leave
or did i pick him
already knowing he'd leave?
was it i who first left?
left whom?
myself?
. . .
. . . [aquele adeus]
quando você fechou a porta
pareceu um mergulho no cosmos
e naquele vácuo
juntaram-se nenúfares
como se formassem
uma mandala
um torvelinho
um portal
um ninho . . .
. . . [a reforma]
o barulho ao lado
não é o barulho ao lado
sou eu
sou eu este vizinho
quebrando tudo . . .
. . . [the unflapping wings] Trying to figure out the love I still have for you, D.
It might be the engine of a vehicle which has been turned off
Still throbbing
Or the worn-out masquerade mask dropped in the gutter
Still shining
Perhaps it is the aftersound of a bee which has landed on a flower
An aftersound mingling with pollen and nectar
. . . [eu invento]
Eu invento que amo
e invento quem amo.
Quem amo
acha que amo sem invenção.
Eu também acho.
Ou não? . . .
. . . [as janelas]
as janelas
quebrei todas
soleiras vidros venezianas
dobradiças paisagens
pelo chão . . .
. . . [perplexo]
Perplexo, eu apalpo o relevo; toda a geografia mudou.
Desconheço as montanhas, as ilhas, os mares, as ondas.
Que países são estes que agora sou?
. . .
. . . [ecos do passado/reflexão]
tua voz passeia líquida em meu labirinto
voz luminífera mas que tira meu equilíbrio e
pois perde-se e t e r a m n t
em ondas n e
tantas ondas
ondas que nenhum minotauro
é capaz de extinguir . . .